quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Falar de amor

Nunca algo tão simples, tão aparentemente inócuo, me fez tomar decisões tão complexas de gerir. Não costumo prestar atenção logo à primeira vez. Nunca. Preciso da repetição, do habituamento para conseguir ceder algum espaço. De pé, no meu quarto, ajusto o volume e carrego em play. Dois minutos depois, bastaram dois, tudo mudou. Dois minutos em que não me lembro de respirar, não me recordo de fazer um movimento, tinha um sentido a funcionar e um apenas. Tudo o resto deixou de existir e eu não sou assim, eu nunca sou assim. Voltamos ao jogo do nunca.

E desde estão que desliguei, não quis saber, não queria ouvir. STOP. Um acorde conhecido era o suficiente para mudar a estação, o local onde estava. E só conheci a primeira, só quis conhecer essa.

Hoje acordei diferente, com vontade de enfrentar.. E enfrentei... ouvi, 1, 2, 3, 4, 5, não sei quantas vezes. Mas segui em frente, consegui. Doeu, muito, reavivou todas as memórias, deixou-as à flor da pele.. fiquei como estava o dia. Mas sinto que valeu a pena. Não porque consegui esquecer, não porque consegui digerir. Pouco ou nada mudou. Mas quando as nuvens dissiparam, eis que descubro o pedaço de poesia mais perfeito que tenho memória. Não consigo explicar porquê, até porque "não sou eu". Mas... não sei.. não sei mesmo.

"E soubesse eu artifícios
de falar sem o dizer
não ia ser tão difícil
revelar-te o meu querer...

timidez ata-me a pedras
e afunda-me no rio
quanto mais o amor medra
mais se afoga o desvario...

E retrai-se o atrevimento
a pequenas bolhas de ar

e o querer deste meu corpo
vai sempre parar ao mar"